CAPÍTULO 29
Madre de Deus
– Brasil – 2003
Estamos fora da estrada real. Na verdade estamos completamente fora da
realidade. Francisco está se perdendo em conspirações e levando a estória
para um final trágico e sem sentido. Eu agora até acredito que Rixard Burton
existiu e não vou permitir que essa mania de perseguição que o Francisco tem
nos leve para o buraco. Faço um acordo com vocês e aceito assumir a
responsabilidade de colocar essa estória novamente nos trilhos da história.
Francisco já não tem mais condição de prosseguir com essa narração. É
preciso que alguém com um senso prático assuma o controle desse livro ou
correremos o risco de desabar em profunda estupidez. Como já disse
anteriormente eu sou prático, mas não sou estúpido. Não me falta capacidade
para retratar essa estória de maneira compreensível e linear. Só me faltava
vontade e motivação, mas agora tenho ambas. Sou até capaz de abandonar minhas
convicções e tornar-me um escritor contumaz. Tudo pelo bem desse livro e dessa
estória que tanto me cativou. Não axo justo q paire sobre a senhora Burton
tanta suspeita e maledicência. Francisco nos dois últimos capítulos
envenenou-se com alucinações pessoais contaminando o próprio Burton. Ta certo
q o inglês realmente criticou toda sociedade mineira com muita vontade. Tbm é
verdade q ele não gostou de nossa culinária e muito menos de nossa arquitetura
barroca. Mas devemos nos manter nos fatos e dar a Burton o q é de Burton. O que
traz para estória essas conspirações malucas de Francisco e do Richard? Eu na
tenho a menor idéia? Q papo mais maluco esse de farsas e perseguições? E tbm
aqui não é lugar para esclarecer o passado negro do Francisco. O que tem a ver
o fato dos livros desaparecidos da biblioteca? Ele já ganhou a fama mesmo.
Aproveita e deita na cama. Aliás, tá precisando de um descanso o pobre
coitado. Deve ter pegado uma febre amarela das bravas. O interessante é que
tomamos vacina antes de começar a viagem.
Para complicar a situação errei o caminho e realmente estou fora da estrada
real. Depois de São João Del Rei deveria seguir no asfalto até uma entrada
entre Vitória e Caquende, que me levaria até Carrancas. Entrei antes e subi
uma serra, avistando a minha direita a represa de Camargos que engoliu parte da
estrada real original. Vim parar nessa cidade chamada Madre de Deus. Talvez ela:
Mãe de Deus possa me explicar por que estou seguindo esse sonhador nessa
aventura maluca. Logo eu um cara tão pé no xão. Por que? Por que, Uai?
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