FINAL 

Posfácio, desenlace, remate, epílogo tardio... 

Ou sei lá o que...

 

                    Eu não entendi nada! Sinceramente. Para dizer a verdade, eu nem li tudo. Você se chegou até aqui deve ter lido tudo. Ou é daqueles que lê o último capitulo antes, para descobrir o final primeiro que todo mundo. Parece que era uma historia sobre um tal Richard Burton, que por sinal não era o marido da Elisabeth Taylor. Pra ser mais sincero ainda, não me interessei nem um pouco pelo assunto. Achei até muito chato. Dei uma folheada e achei meio maluco e confuso. Não vou dizer que não gostei. Simplesmente não entendi. Você deve estar se perguntando o que estou fazendo aqui então. Desculpe minha falta de educação. Meu nome é Henrique. Henrique Costa. Se você prestar atenção meu nome está impresso na capa desse livro. Mas não adianta pedir que eu explique qualquer coisa, porque não fui eu que o escrevi. Antes que você me acuse de plágio deixe-me explicar.

                    Tudo começou quando, cansado do dia-a-dia da cidade grande,(há controvérsias se BH é grande) resolvi fazer uma viagem pela Estrada Real. Peguei minha bicicleta e segui rumo a Parati, partindo de Sabará. Levei quatorze longos dias de penosas pedaladas. Quando cheguei em Parati, no dia 11 de setembro de 2003, (não tenho culpa pela data fatídica, mas é verdade , posso até provar com o recibo da passagem de volta, pois voltei de ônibus), uma Quinta-Feira por sinal, encontrei a cidade meio ressaquiada. Achei a cidade muito cheia e suja e me dirigi para a orla para tirar algumas fotos dos principais pontos turísticos. Alias minha máquina travou e perdi todas as fotos a partir de Lagoa Dourada.

                    Para minha surpresa ao chegar em frente ao Museu de Arte sacra, antiga Igreja Santa Rita, deparei-me com a imagem dantesca de um cavalo morto. Era um pangaré velho, talvez branco sujo, ou talvez fosse realmente cinza.

                    As moscas já banqueteavam o botim. A principio pensei em evitar aproximar-me de tal carniça, mas alguma daquelas coisas que movem a gente, que nunca conseguimos explicar, me fez ir xeretar o defunto. Para minha surpresa, atrás do cavalo fétido, jazia um homem. A figura roxa com as mãos entrelaçadas em volta do pescoço já começava também a feder.

                    Em volta dele, espalhadas pelo vento, algumas folhas bailavam em animado redemoinho. Antes de chamar a policia (procedimento básico para quem encontra um cadáver morto) recolhi as folhas e descobri que se tratava de manuscritos, com uma letra horrível por sinal, que relatavam as aventuras daquele homem, agora com a língua de fora, e seu cavalo, igualmente morto. Junto ao animal, acondicionado em uma bolsa de couro, encontrei o resto desses manuscritos.

                    Guardei cuidadosamente esses papeis em minhas tralhas e aguardei a chegada da policia local, que, diga-se de passagem, demorou mais de hora.

                    O detetive da homicídios pediu que eu aguardasse e começou a remexer no corpo. Vez ou outro lançava um olhar desconfiado para minha pessoa. Após mais de duas horas, os peritos ( tinham chegado mais alguns, se não disse antes é porque não levo jeito para relatar essas minúcias. Alias não levo o menor jeito para escritor). Eles... os peritos, como eu estava dizendo... constataram que a vítima havia sido vitimada por um suicida, no caso ela mesma. Soa meio confuso, mas é isso aí. O cara havia se matado a si próprio. Não é um simples suicídio, pois geralmente o suicida não se mata. Quem matou Sócrates foi a cicuta, que engendrou seu organismo privando-o de alguma função vital. Quem matou Vargas foi a bala que penetrou em seu peito fazendo vazar fluido vital por todos os lados. Para se matar o candidato a defunto precisa primeiro escolher o método que melhor se adapte a ocasião. É preciso escolher bem o agente exterminador seja ele arma de fogo, corda, veneno, gilette ou a dureza do solo ao cair de certa altura. Que seja uma altura realmente alta, porque senão o máximo que irá conseguir vai ser alguns ossos partidos.

                    Resumindo, aquele era um caso impar de alguém que conseguira matar a si mesmo sem o auxilio de nenhum agente externo. Único na literatura mundial. Dizem que o instinto humano de preservação não permite que consigamos nos enforcar a nós mesmos. Tá meio confuso de entender?? Ah! Se você chegou até o final desse livro já enfrentou coisa pior.

                    Causa Mortis: O camarada apertou os dedos no próprio pescoço privando seus pulmões de oxigênio, essa sim, a coisa mais importante na vida de uma pessoa. (Você pode ficar sete dias sem água, trinta sem comida, mas sem oxigênio você não fica mais que um minuto. Sem dinheiro, sem sexo, sem amor, o cara até sobrevive algum tempo, mas sem Ar...Portanto a coisa mais importante na vida de um ser humano é o ar.)

                    O cara foi enterrado como indigente lá no cemitério de Parati. Se estiver duvidando é só checar os sepultamentos efetuados no dia 15 de setembro de 2003. A autopsia demorou, mas nada de errado foi encontrado. O cara não usava drogas e o desjejum encontrado no bucho dele estava com aspecto saudável (Se pudermos considerar saudável as entranhas de um defunto).

                    Eu não sei se os manuscritos iriam auxiliar a policia a descobrir a identidade do morto, mas a verdade, é que omiti a existência deles. Juntei os manuscritos e entreguei para um editor. Meu nome está na capa porque o editor disse que todo livro tem que ter um autor. Eu acho que é para efeito de direitos autorais e outras burocracias. Meu editor disse que manuscritos perdidos (ou seria, manuscritos achados) geram excelentes livros. Eu não sei! Não sou crítico literário também. Eu não vi mal nenhum em emprestar meu nome. A gente às vezes empresta o nome pros amigos e fica com ele sujo na praça, porque não emprestar para um livro, não é mesmo?

                    Apesar de não ter lido o livro todo, eu sei que o nome do defunto é Francisco e que ele possivelmente morava em Sabará. Como moro perto, e para acalmar minha consciência, que as vezes é tão chata que não me deixa dormir, resolvi investigar na cidade. Não localizei nenhuma família capenga de Chico e ninguém conseguiu se lembrar de um Francisco Viana desaparecido. O cara realmente devia ser de poucos amigos. Paciência. Alias, em Sabará pouca gente se recordou do nome Richard Burton também. Os poucos que se lembraram perguntaram: “O marido da Elizabeth Taylor?!”

                    Termino aqui esse capitulo, que deveria ser o prefácio do livro, mas como o editor é meio maluco também, acho que ele misturou todos os capítulos. Paciência. Vai do jeito que está. Se não entendeu lê de novo na ordem cronológica.

                    Obrigado pela atenção dispensada em ler este livro. Acredito que o tal Francisco ia ficar feliz em tê-lo como leitor. Se bem que um cara que se mata com as próprias mãos num deve ficar feliz com qualquer porcaria. Não! Não é você que é porcaria... eu quis dizer, qualquer coisa…Ah! Deixa pra lá! Ficar me desculpando com uma pessoa que eu nem conheço.

                    Parece que tinha muita personalidade esse tal Francisco.., até mais que uma. Se for livro de auto-ajuda, não sei. Mas ultimamente tenho me sentido assim: Nos dias pares estou bem, nos impares nem me cumprimenta. É o lance da ambigüidade do ser humano. Papo cabeça. Ego e Alter ego. Yin e Yang... Pode até ser que eu leia o livro todo, mas no momento eu tenho coisa melhor para fazer: Viver por exemplo.

                    Alias, antes que eu me esqueça: do lado do corpo também achei um amuleto super maneiro. Também omiti esse fato da polícia (Estou me saindo um criminoso de primeira) Um colarzinho com um pingente negro, de uma tonalidade que nunca vi igual. É uma lasca de pedra que as vezes, parece que muda de cor.

                    Não tiro do pescoço por nada desse mundo...

FOTO DA PEDRA SAGRADA DOS MUÇULMANOS NA MECA

NOTE QUE NO MEIO FALTA UM PEDAÇO

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